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terça-feira, 13 de julho de 2010

EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL

AMOR E RESPEITO À COMUNIDADE DA VIDA

Rose Marie Inojosa ¹
Nós nos educamos no convívio, ensinou Paulo Freire, e esse processo é permanente, gerando, ao mesmo tempo, autonomia individual e integração à sociedade.

Maturana, ecoando Freire, diz que educamos como convivemos e como educamos convivemos. Essa preciosa idéia é, em si, socioambiental, incluindo na ideia de convívio todos os componentes da comunidade da vida.

Como convivemos entre nós, membros da espécie humana e como convivemos nós na comunidade da vida do Planeta Terra?

Passamos o último século nos aglomerando em cidades e ampliando o consumo em busca de mais conforto, com mudanças no campo e em toda a cadeia de produção. Nesse movimento excluímos outros seres vivos do convívio humano e a exploramos recursos naturais à exaustão. A imagem idealizada do progresso foi da chaminé da fábrica ao automóvel individual. Simbolizavam oportunidades e conforto para todos. A imagem real, no entanto, é de apropriação desigual da riqueza, desertificação, poluição do ar e da água, produção de lixo, violência!

Mas, a sociedade vem tomando consciência das consequências presentes e futuras desse modelo excludente e insustentável de conviver, quer por estudos e projeções, quer pelas consequências sentidas no cotidiano, como é o caso dos reflexos da poluição na saúde.

Os segmentos que primeiro se sensibilizaram buscam soluções e adesões que viabilizem transformações. E educadores, agentes da conquista da autonomia individual e da integração social, assumem sua responsabilidade nesse processo.

Na educação socioambiental, transdisciplinar, envolvem-se professores de vários saberes e educadores geracionais, pais, amigos, vizinhos, pois como convivemos educamos, educadores-educandos uns dos outros.

Nesse processo dinâmico de ensino-aprendizagem, ressaltamos dois eixos difusores da educação ambiental: o amor à comunidade da vida e o consumo responsável.

Em relação ao consumo, temos sido irresponsáveis. Geramos montanhas de lixo, ao contrário de todas as demais espécies cujos resíduos são absorvidos no círculo virtuoso da vida. Ficamos as voltas do que fazer com o lixo, ao invés de melhorar e reduzir nosso consumo. É preciso produzir e consumir de forma responsável, recuperando e reaproveitando a matéria prima. Práticas ingênuas, como o uso de pets para enfeites ou árvores de natal, que irão depois para o aterro, precisam ser substituídas pelo recolhimento e reaproveitamento em massa de materiais pela indústria e pelo comércio, bolsas de resíduos reciclando a riqueza; a coleta seletiva pelos consumidores finais; a orientação, normatização e destinação adequada dos resíduos que sobrarem pelos administradores públicos. E decidir, como sociedade, recusar o consumo de materiais cuja produção ou reabsorção seja danosa à comunidade da vida.

Para fomentar o amor à comunidade da vida é preciso resgatar o respeito à vida e o prazer do convívio entre gente, bicho e planta. Este é o ano internacional da biodiversidade. O Planeta está perdendo espécies aceleradamente.

É preciso voltar a tomar lições com as árvores, sábias mestras. Tomar lições com as árvores não é apenas compreender os serviços ambientais que elas prestam, para reduzir o calor, melhorar a qualidade do ar, mas também experimentar novamente o convívio afetivo com os indivíduos vegetais que estão nas ruas, nos quintais e jardins coletivos que são os parques urbanos. Observar e respeitar a árvore que encontramos na calçada, como ela é no florescer, o que acontece no inverno, a que animais dá alimento e abrigo, de que alimento e espaço ela precisa.

Também a água é uma grande mestra. Mestra bastante presente na nossa Cidade, cuja fala mansa, leitos sinuosos, generosidade de acolhimento de espécies, nossos avós conheceram. Os maus-tratos, retificação, emparedamento, ocupação de várzeas, poluição, nos trazem de volta essas águas não mais mansas, mas com furor e destruição. Vamos redescobrir as águas de São Paulo, compreender a essencial importância dos parques lineares e da recuperação dos mananciais.

E os bichos? Vamos tomar lições com os animais silvestres de São Paulo, onde moram muito mais espécies que os animais domésticos. A recente atualização do inventário da fauna silvestre de São Paulo, feita por uma equipe técnica da Prefeitura, mostra que temos 700 espécies endêmicas no território do município (http://biodiversidade.prefeitura.sp.gov.br), de passarinhos e caxinguelês a bugios e onças. Reconhecer essa fauna, respeitar a sua existência e seu papel na complexa teia da vida é compreender a nossa identidade terrena, o fato de que somos parte.

Estamos educando como convivemos? O processo de educação socioambiental baliza-se pelos sinais de transformações gerados nessa convivência.

Em instituições de educação sabemos que não basta perguntar, ao fim de um seminário ou curso, se a pessoa ficou satisfeita com conteúdo, professor, metodologia. Mesmo que a satisfação seja alta pode não implicar mudança de pensamento ou atitude. Temos de nos perguntar, educadores-educandos, o que está mudando no nosso modo de vida, nos nossos hábitos, na qualidade e intensidade do convívio entre nós, como integrantes da família humana e com os demais seres que compõem essa magnífica diversidade da vida no Planeta.
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¹ Comunicóloga. Diretora da Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz, UMAPAZ, da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, da Prefeitura de São Paulo.

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