Páginas

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Reconhecendo a Diversidade Urbana

Artigo
Débora Pontalti Marcondes

Muitas vezes, andando pela nossa cidade, não nos damos conta da diversidade de vida, quer seja de plantas ou animais, que consegue sobreviver apesar de todas modificações que a cidade impõe. O ambiente natural que existia foi substituído por ruas asfaltadas, residências, comércios e indústrias. Ruas, árvores enfileiradas que aos olhos de grande parte da população parecem todas iguais. E a fauna? Quantas espécies de animais, que convivem conosco, seríamos capazes de listar, sem contar cães, gatos, ratos, baratas, formigas e pernilongos?
Talvez muitos não saibam, mas a ONU declarou que 2010 é o Ano Internacional da Biodiversidade. O que isso significa? Que neste ano nos propomos a aumentar a consciência sobre a importância da preservação da biodiversidade em todo o mundo.
E é com base nestes dois quadros que a Umapaz convida você a se reaproximar e (re)conhecer os outros moradores da nossa cidade. Para tanto, publicaremos neste Blog pequenos textos sobre árvores e animais, facilmente observados em São Paulo, mas que muitas vezes não reparamos, quer seja pela correria do dia a dia ou pela falta de alguém que nos desperte esse interesse.
Que tal começarmos com um fácil? Uma ave que certamente você já viu e tem uma imagem dela em sua mente: o Bem-te-vi. Ele é o animal com maior ocorrência na Cidade, segundo listagem recém publicada pelo DEPAVE-3 sobre o Inventário da Fauna do Município de São Paulo.

Foto: Débora Pontalti Marcondes

O Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus) é uma ave nativa do Brasil, mas que também ocorre em quase toda a América Latina. A primeira parte de seu nome científico, Pitangus, tem origem em como os índios brasileiros o chamavam, piranga guassu, que significa Pitanga Grande. Já sulphuratus deriva de sulphur, palavra Latina para enxofre, em alusão a cor amarela de sua barriga.
É umas das primeiras aves a cantar ao amanhecer e sua vocalização parece repetir as sílabas “bem te vi”, ou parte delas. Seu nome popular em outras regiões também se apropria das onomatopéias vocalizadas. Em francês é chamado de Tyran Quiquivi e em Inglês de Great Kiskadee.
Outra característica marcante desta ave é sua coloração. Um amarelo vivo no ventre e uma faixa branca acima dos olhos e na garganta. No alto da cabeça apresenta uma listra amarela que pode ser eriçada formando um topete.
Mas o que torna o Bem-te-vi uma ave tão presente nas grandes cidades? Possivelmente sua grande capacidade de descobrir novas fontes de alimento, reduzindo, assim, a competição com outras espécies. Segundo diversos autores, os bem-te-vis podem pescar girinos e peixes em águas pouco profundas, capturar insetos durante o voo, caçar pequenos répteis e crustáceos, ou ainda se alimentar de frutos.
Já num ambiente sob nossa influência, notamos que eles passam por um processo de aprendizado baseado na tentativa e erro, tendo sido vistos se alimentando de salgadinhos, batata frita, migalhas de pão, ração animal e, até mesmo, tentando comer um barbante, que foi rejeitado.
Apesar de toda fragilidade que aparentam, nos períodos de reprodução eles se tornam bastante briguentos, não admitindo dividir seu espaço com outras aves. Já observamos bem-te-vis afugentando aves bem maiores que eles, como gaviões, corujas e urubus, por exemplo. É fácil encontrar um bem-te-vi dando voos rasantes sobre outras aves e tentando arrancar-lhes as penas. É por esse comportamento agressivo que a Família dos bem-te-vis recebeu o nome de Tyrannidae, ou seja, dos tiranos.
Agora que já os conhecemos, que tal entendermos sua importância nas cidades?
Como vimos, os bem-te-vis podem se alimentar de insetos e larvas, auxiliando no controle de pragas como, por exemplo, os mosquitos transmissores de doenças, e controlando populações de formigas, cupins e lagartas, que atacariam nossas plantas.
Outra contribuição ocorre a medida em que se alimentam do néctar das flores, pois acabam “sujando” o bico e a plumagem com o pólen e carregam-no de uma flor a outra, auxiliando, assim, a polinização. Ainda com base em sua dieta, ao se alimentarem de frutos e sementes, eles podem carregá-las grudadas ao corpo, ou ainda, eliminá-las pelas fezes ou regurgitos, facilitando a disseminação das sementes. A esses e outros favores prestados pela natureza damos os nome de serviços ambientais.
E, de uma maneira geral, os bem-te-vis também nos encantam com sua vocalização marcante e colorido intenso das penas, transmitindo agradável sensação de harmonia e tranqüilidade.


Para o próximo artigo, escolhi a árvore que mais aprecio: a Paineira (Ceiba speciosa). Até lá!


Referências bibliográficas:
ARGEL-DE-OLIVEIRA, M. M. CURI, N. A. PASSERINI, T. 1998. Alimentação de um filhote de bem-te-vi, Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) (Passeriformes: Tyrannidae), em ambiente urbano. Revta bras. Zool., 15 (4): 1103-1109.

Sick, H. 1997. Ornitologia brasileira: uma introdução. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro.

VOGEL, H. F., METRI, R. 2008. Estratégias alimentares do Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus Linnaeus, 1766) em diversos ambientes. Revta Luminária, 9(1): 117-123.

Nenhum comentário:

Postar um comentário