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quinta-feira, 4 de março de 2010

A CONSTRUÇÃO CIVIL, A MADEIRA E A FLORESTA.

Eduardo Aulicino 1

Nestes dias, ao abrirmos os jornais, revistas ou até mesmo na televisão, nos deparamos com um grande número de peças publicitárias oferecendo os novos empreendimentos imobiliários da cidade, o que naturalmente evidencia a boa fase pela qual, passa a construção civil no nosso país, setor reconhecido pela geração de empregos destinados a uma mão de obra de menor qualificação.
O apelo ecológico, hoje, é indispensável aos empreendimentos residenciais, a começar pelos nomes dos edifícios que invariavelmente adotam palavras como: verde, jardim, vila, também acompanhados de nomes de flores, árvores ou pássaros, tudo isso em idiomas distintos, sem esquecer da sempre presente frase: “Muito verde e qualidade de vida para sua família”.
Estes edifícios possuem novas tecnologias que visam propiciar ganhos econômicos e ambientais em sua operação como, por exemplo: aquecimento de água por energia solar, captação de água de chuva, medição de consumo de água individualizada, equipamentos economizadores de energia, e outros mais que fazem parte de um contexto maior chamado de “Construção Sustentável” ou também chamado de “Construção Verde”.
Alguns cases apresentados em seminários sobre “Green building” reportam um conjunto de práticas sustentáveis que passam a ser adotadas pelo setor da construção civil.
Um exemplo é o caso da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo - CDHU que dentre uma série de medidas importantes como a instalação de aquecedores de água por energia solar, anuncia como “uma maneira de preservar as florestas” que em seus novos projetos de construção de conjuntos habitacionais, está prevista a substituição das tradicionais estruturas de madeira que sustentam os telhados, por estruturas confeccionadas em aço.

Agora, a questão que se coloca é: o não emprego de madeira na construção, de fato, ajuda a preservar a floresta?
Cuidado! A resposta não é tão óbvia assim; ao contrário, nos induz a um grave equívoco, portanto, merece aqui um pouco de reflexão.
O desmatamento na região amazônica e suas conseqüências em relação às mudanças climáticas no planeta, hoje, é repercutido internacionalmente como o principal problema ambiental do Brasil.
Os brasileiros de outras localidades começam a perceber que além da floresta Amazônica, cartão de visita e motivo de orgulho nacional, o Cerrado, a Caatinga, o Pantanal, o Pampa, a Mata Atlântica e a Zona Costeira que da mesma forma, representam a identidade de cada uma das regiões do país, também padecem pela degradação de seus biomas.
Com este panorama, o cidadão comum, sem o conhecimento mais profundo sobre as reais causas do desmatamento, mas preocupado com o tema ambiental é induzido a refletir sobre se deve ou não, colaborar com o consumo de um produto que ele acaba identificando, como o principal vilão deste processo, a madeira.
Sobre este aspecto, ao adquirirmos qualquer produto cuja matéria-prima tem origem na exploração predatória e ilegal dos recursos naturais, também dividimos a responsabilidade pela degradação do meio ambiente ao passo que cada vez mais consumidores se conscientizam da importância de suas escolhas e passam a adotar outros critérios, além do menor preço, em suas compras e hábitos de consumo.
Atualmente a supressão das florestas do Brasil, tem como causas principais: a questão fundiária, a expansão agropecuária, a ocupação urbana e a exploração mineral.
A exploração da madeira, por conta de seu valor econômico, facilita o processo de limpeza da área, mas na realidade já não é mais o fator preponderante e sim, um mero instrumento.
Ao contrário, hoje existem inúmeros empreendimentos florestais que adotam padrões internacionais de procedimentos que têm como objetivo principal conciliar o uso da floresta e a conservação de seus recursos naturais.
Nestes empreendimentos, a exploração da madeira de forma ambientalmente correta, socialmente benéfica e economicamente viável se consolida em importante ferramenta para a manutenção da floresta em pé.
A maior parte da produção madeireira da Amazônia, segundo o IMAZONFatos Florestais – 2005, é consumida no Brasil, cerca de 64% de toda a madeira produzida na Amazônia é consumida por brasileiros. O Estado de São Paulo é o maior consumidor, respondendo por 15% do consumo nacional, sendo que dentre os principais setores consumidores, destaca-se a indústria moveleira e a construção civil.
A madeira acompanhada de provas documentais que garantam sua origem legal e não predatória é um produto sustentável, natural e orgânico oriundo de uma fonte plenamente renovável, a floresta. Estes documentos garantem ao consumidor a aquisição de uma matéria-prima de origem legal, extraída de maneira responsável e não predatória.
Ao adquirir madeira nativa, o consumidor deve optar pela madeira certificada, ou não, mas de origem legal.
Os mecanismos de certificação disponíveis no comércio de madeiras do Brasil são: o Sistema do FSC – Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal) e o Sistema de Certificação Florestal Brasileiro do Inmetro (Cerflor) que certificam a produção de madeira ambientalmente adequada, já a madeira nativa de origem legal porem, não certificada, deve vir acompanhada pelo documento de origem legal fornecido pelo IBAMA, o Documento de origem Florestal (DOF).
O uso intenso da madeira exclusivamente nestas condições é o instrumento moderno e eficaz que a sociedade, através de seu poder de compra, possui para preservar as florestas brasileiras.
Reconhecida há muito como amiga da humanidade, em especial, num país que a prestigia em seu próprio nome, Brasil, a madeira deve ser, reapresentada a sociedade atual como alternativa ecológica a materiais como: metais, plásticos, compostos de cimento e outros que em sua produção utilizam como fonte de energia, a própria madeira e em seus ciclos de vida, acarretam incomparáveis impactos ambientais.
Quando utilizada na fabricação de bens duráveis como: móveis, objetos de decoração e principalmente, nas nossas edificações, se constitui em mecanismo para fixação do Carbono.
Explico: a árvore que durante seu crescimento captura, através da fotossíntese, o carbono da atmosfera, sintetizando-o em seus troncos, após sua morte com a decomposição da matéria orgânica, todo o carbono que nela se incorporou retorna a atmosfera juntamente com outros gases como o metano.
Ao transformarmos a madeira da árvore em batentes de portas, estruturas de telhados e outros produtos, estes itens normalmente se conservam por muitas décadas, saindo da edificação somente quando a mesma é demolida e ainda assim, muitas vezes são reaproveitados em novas obras.
Desta forma, o carbono é sequestrado, reduzindo-se o efeito estufa, fenômeno indutor das mudanças climáticas que põe em dúvida a sobrevivência das futuras gerações.

1 Engenheiro Civil – Especialista em Desenvolvimento Urbano, UMAPAZ - SVMA

6 comentários:

  1. Parabéns Aulicino pelo excelente artigo.
    Abraço,
    Newton Figueiredo
    www.GrupoSustentaX.com.br

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  2. Também achei excelente! Parabéns! Eu sempre tive essa dúvida com relação ao consumo de madeira e você ajudou-me a elucidá-lo! Obrigado!

    Abs,

    Fabio Hirayama
    Lumina Essência
    design e mídia CONSCIENTE
    www.luminaessencia.com.br

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  3. Muito legal e esclarecedor.
    Nossa intuição indica o contrário e nos engana.
    Viva a madeira!

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  4. Excelente reflexão, muito bom artigo. No entanto creio que palavras e expressões como cases e “Green building” poderiam ser evitadas.

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  5. Olá,

    Agradecemos a visita e participação.
    Estamos à disposição para eventuais informações e esclarecimentos.
    Continue nos visitando e conferindo nossa programação.

    Atenciosamente,
    EQUIPE UMAPAZ

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  6. Sua opinião pode ser tecnicamente correta contudo devemos ter presente que a sociedade atual já a muito ultrapassou o bom senso em termos de destuição do meio ambiente. Os outros seres vivos devem pagar o preço por nosso meio de vida desrespeitoso e desinteligente?

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