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terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Tear como ferramenta no processo educacional - M Crhistina Belfort

O Tear como ferramenta no processo educacional
                                                    M Crhistina Belfort

O Aprender a tecer relembra profundos significados, que ajuda o aprimoramento e desenvolvimento de potenciais que ainda ocultos.
 
O processo de tecer reorganiza o fazer, desenvolve conexões neurais abrindo novas estradas de comunicação cerebral, ajuda a despertar a ordem interna que se manifesta no atendimento, no fazer e na relação clara com o mundo.


“Segundo a sabedoria dos Navajos, se uma tecelã
elabora uma manta perfeita, deve introduzir no
tecido um pequeno defeito, uma imperfeição

intencionalmente, de borda a borda....


“A Linha do Espírito”
0 importante não são as obras mas .... O importante é

o processo que conduz a sua criação. ”

                                                                  Povo Navajo


Atenção e concentração, é o primeiro passo para perceber nosso estado interior, e o como  nós o expressamos no exterior. Esse processo nos mostra como lidamos com as situações de nossa vida, o que nos faz sair de nosso eixo, onde nos atrapalhamos, qual a nossa capacidade de adaptação ao meio, de que forma resolvemos os problemas e como nossa mente ordena e orienta. É também uma forte ferramenta de clarificar e dar forma a sonhos de projetos.

Nesse processo usamos muitas ferramentas simbólicas. O tecer nos trás todos os elementos da vida.


O Tear
Representa os limites da matéria, Simbolizam o Céu e a terra, e o espaço “ Vazio “ Fertil” de possibilidades.

As Mãos
Simbolizam nossa mente. Sempre interferindo, criando formas . Criando realidades.
O Fiar

Representa nossa capacidade de confiar no que ainda é invisível para os olhos, mas é, em algum nível de nós. São os fios quase invisíveis que nos dão a estrutura, a confiança.

A Navete:
Diz : Eu sou a Barca do Destino, em meu movimento, passo por entre os recifes dos fios da trama, que representam a vida. Do lado direito para o esquerdo e vice-versa. A vida é um eterno vaivém.
A Urdidura,
( Fios verticais) as potencialidades, as ajudas disponíveis que reconhecemos em nós e os que estão disponíveis no plano sutil.

A urdideira
A ordem divina, que através de escolhas possibilita o caminhar.
O Pente

A divisa entre o Céu e a Terra. Ora abre as portas do sutil, ora as da Terra, dando ritmo á vida.

A Trama
É como tecemos, damos forma à vida, como construímos as relações e materializamos nossas realidades.
Tecer
É reunir realidades distintas no plano sutil, como também tirar algo da própria substancia, como faz a aranha que constrói seu tecido tirando os fios dela mesma .

Os Rolo de Tecido e de Fios
A tira de tecido que se acumula e se enrola em um bastão sobre o ventre  do tecelão representa o passado, enquanto o rolo do fio a ser tecido simboliza o mistério do amanhã, o desconhecido, o devir.

Estas e outras metáforas criam uma relação profunda, transformando, ordenando e curando durante o processo do tecer. Durante vários anos em meu atelier em Itapecerica da Serra, tive a possibilidade de trabalhar e ensinar crianças dos arredores. Nesta época não tinha noção dos benefícios que o tear podia trazer para o aprendizado escolar. Somente após alguns messes recebi o feedback de uma professora contando sobre a transformação de dois meninos com os quais eu trabalhava, e o quanto eles haviam se tornado ótimos alunos.

Crianças que poderiam ter sofrido processos de desempoderamento continuo durante suas vidas escolares, na pedagogia do brincar e se encantar, despertaram seus potenciais.

Comecei a prestar atenção ao processo e detectar em quais momentos essas mudanças eram facilitadas. Um grande universo se descortinou para mim. Cada passo, desde o Urdir, com seu movimento que lembra a dança do Tai Chi, a atenção as seqüências, a tradução do imaginado em linguagem própria do tear, a colocação dos fios no pente, quase uma meditação, que pede que estejamos atentos a ordem natural das coisas, as escolhas das cores e texturas, relembrando as escolhas de cada momento de nossas vidas. O resolver problemas e desmanchar o nós, que nós mesmos criamos, sem comprometer o restante da urdidura. Todos os movimentos do Tear nos remetem á dança da vida. E nos ensinam o tecer
de cada relação, de cada entendimento e mais importante a interrelacionar os conhecimentos e os vários níveis de percepção da realidade.

Tive também experiências com crianças especiais, desenvolvendo atenção, coordenação motora num primeiro momento, e com os resultados obtidos, posso afirmar que além dos benefícios no seu desenvolvimento, essas crianças podem vir a se tornar bons tecelões e fazer disso no futuro uma atividade rentável.

Com adultos, alem de pessoas que queriam aprender a técnica, tive também grupos terapêuticos com mulheres e homens, onde trabalhávamos aspectos de suas vidas, seja nas relações, no concretizar, na saúde e na paz. O tecer desses aspectos, através do processo de quietude, concentração e entrega , permite o surgimento de entendimentos profundos que se materializam e se desfazem ao simples emergir para a luz.

No xamanismo a aranha simboliza as infinitas possibilidades de criação. A aranha é equivalente á energia feminina da força criadora que tece os desenhos da vida em intrincados padrões. Ela nos lembra que somos seres infinitos e continuaremos a tecer os padrões de nossas vidas ao longo da infintude do tempo.

M Crhistina Belfort
Arte-educadora, artesã, tecelã, trabalha articulando artes do fazer com artes do pensar. É palestrante credenciada da UMAPAZ. Participou como facilitadora voluntária das quatro turmas do Curso de Educação Gaia (2006, 2007, 2008 e 2009) e tem oferecido cursos como Teia da Vida, Arte Efêmera, Desenvolvimento do potencial criativo do educador transdiciplinar; Patchwork: da criação individual à construção coletiva. Ecologia: novos paradigmas, novos valores.







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