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sábado, 24 de abril de 2010

PARQUES URBANOS

Cyra Malta Olegário da Costa 1

Estamos no início do século XXI e nos deparamos com as consequências das escolhas de muitas gerações em relação a como nos organizamos em sociedade. Essas escolhas nos conduziram a crise ambiental que hoje temos que lidar.
As cidades são uma realidade. A ocupação desordenada na cidade de São Paulo conduz a uma piora na qualidade ambiental. Neste sentido, tanto repensar a importância dos espaços verdes remanescentes na cidade como a criação de novos espaços, é fundamental para melhoria da qualidade ambiental. Para isso é necessário considerar desde as mudanças climáticas, passando pela questão da água, o que comemos, até a conservação da biodiversidade, como diretrizes para um processo de reconexão do ser humano com a natureza e ampliação da compreensão da ligação entre todos, conformando uma consciência planetária.
Nesse sentido, todos os espaços verdes da cidade podem ser pensados como unidades de conservação urbana, sendo espaços significativos para a qualidade ambiental desde um quintal privado, uma calçada verde, um canteiro central de uma avenida, uma praça, a arborização urbana, bem como as áreas maiores - os nossos parques. Todos esses espaços são importantes quando pensamos nos serviços ambientais que prestam a cidade.
Os parques urbanos são espaços democráticos, onde todos podem ter acesso ao que a natureza nos possibilita de mais belo: a convivência das diferentes espécies de vida em plena cooperação. Vemos desde uma linda florada que representa a expressão da passagem do tempo através do movimento da vida pelas estações do ano até um pássaro se alimentando de um inseto, permitindo que percebamos que a vida é cíclica, que da morte advêm a vida e da vida advêm a morte, sem contarmos as inúmeras expressões da vida microscópica que pouco logramos ver.
Os parques são espaços naturais de ecoalfabetização. Sendo assim, o planejamento e/ou adaptação de suas construções, seus caminhos, o manejo de sua vegetação, o zoneamento da área, deveriam prever e refletir a busca de alternativas para um planeta sustentável.
A cidade de São Paulo possui duas grandes reservas florestais: a Cantareira ao norte e a Serra do Mar ao sul. As pequenas unidades de conservação urbanas cumprem um papel fundamental na comunicação entre esses dois maciços. Para a fauna são os locais de descanso e alimentação. Para a vegetação a possibilidade de polinização e germinação de espécies que são conduzidas pelo vento e pela fauna. Para nós, seres humanos, é a possibilidade de contemplação e convívio com a natureza.
Esse conjunto de espaços verdes conforma a floresta urbana da cidade de São Paulo, nos colocando mais perto da florestania, da possibilidade de construção de uma sociedade sustentável, considerando os princípios éticos da permacultura: cuidar da terra; compartilhar o excedente e cuidar uns dos outros.
Os parques são lugares onde podemos nos educar uns aos outros a partir do exemplo da natureza, sendo importante em seu planejamento a presença predominantemente das áreas naturais. Prever o reflorestamento e enriquecimento florestal, preservação das minas d’água, construções sustentáveis e atividades compatíveis as áreas naturais. Nesse sentido algumas atividades desportivas muitas vezes propostas não são adequadas a esses espaços naturais, sendo inclusive conflitantes.
Quando pensamos os parques numa perspectiva de espaço educativo com vistas a reconexão com a natureza, muitas vezes, isso implica conflito com idéias de limpeza e uso do local. O parque precisa de área de compostagem, das folhas cobrindo o solo, das árvores e jardins com pouca área impermeabilizada. Esses aspectos são importantes para a recarga do aqüífero e conservação da biodiversidade.
A maioria dos parques urbanos de São Paulo não resultou da preservação de uma vegetação primária ou secundária. São áreas desmatadas, resgatadas de outros usos, considerando, de um lado, a necessidade de proteção de mananciais, como é o caso dos parques lineares, ou parte do plano de dotar a Cidade de locais para conservação de biodiversidade, sendo, portanto, necessário o restauro da vegetação original desses espaços. O plano de manejo com vistas a cultivar as árvores e demais espécies vegetais do bioma da Mata Atlântica é de fundamental importância para a conexão dos dois grandes maciços, ao norte e ao sul do Município.
Se queremos construir uma nova possibilidade de nos relacionarmos com a natureza precisamos resignificar os parques e demais espaços verdes dentro da Cidade de São Paulo, passando a considerar diretrizes ambientais no planejamento de ações em relação aos espaços verdes, o que significaria sermos menos urbanos.
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1 Mestre em Engenharia Agrícola (área de Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentável), agrônoma da Prefeitura de São Paulo e Diretora da Divisão Técnica de Produção e Arborização da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente de São Paulo.

4 comentários:

  1. Frequento o parque do Ibirapuera desde que me conheço por gente, hoje com 52 anos uso o parque para jogar basquete a noite e me pergunto se é sobre estas praticas que vc cita como nao adequadas aos parques. O verde é fantastico mas usar um equipamento público, só para variar tb é.
    Temos que encontrar soluçoes que atendam os dois aspectos. O povo aqui já não tem praia, então os parques são os grandes e talvez únicos espaços de lazer das pessoas.

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  2. Gostaria de comentar sobre os problemas que enfrentamos na Cidade de São Paulo quando tomamos a decisão de plantar uma árvore. Posso dizer sem medo de errar que é possível encontrar pessoas que amem tanto as árvores como eu, porém, mais é impossível. No entanto estou arrependida por ter plantado árvores em meu quintal. Plantei algumas de grande porte, só que para mantê-las e preservar a vegetação de menor porte preciso elevar a copa para que o sol penetre por baixo delas. Infelizmente, quando vamos fazer esse controle precisamos pedir autorização para a prefeitura que, não só recusa como nos trata como criminosos.
    Há muita incoerência e já fui multada até porque tratei as árvores em frente da minha residência contra cupins e brocas. O pior da história é que quando fui pedir para que fizessem o tratamento alegaram que não tinham verbas. Se as autoridades passarem essa responsabilidade para os cidadãos ou grupos de cidadãos podem ter certeza de que não teremos tantas árvores caindo durante os vendavais. Um morador decidiu tratar todas as árvores do nosso bairro pagando, de seu próprio bolso, R$1000,00 por dia para um grupo especializado e foi obrigado a parar porque foi proibido.
    Muitas pessoas estão deixando de plantar porque sabem, de antemão, que a prefeitura vai usar aquela preciosa árvore para infernizar a vida da pessoa que a plantou. É como se tivéssemos um filho e as autoridades nos tirassem o direito de cuidar dele e educá-lo. Peço o direito de cuidar das minhas árvores, porque elas são para mim como filhos.
    No bairro onde moro, Brooklin Velho, inúmeras árvores maravilhosas estão sendo derrubadas para a construção de condomínios horizontais que não respeitam nem mesmo o recuo obrigatório entre as moradias. Para nossa desilusão eles têm autorização não só para derrubar como para construir de forma irregular. O que será que esses construtores têm que nós não temos?
    Queremos o direito de plantar, cuidar e proteger nossas árvores e não sabemos a quem recorrer. Não queremos nenhuma autorização para matar, apenas para plantar e cuidar. Sugiro que cada pessoa possa ser totalmente responsável pelas árvores que planta dentro de seu próprio terreno nas áreas urbanas, uma vez que ela notifique a prefeitura, no momento do plantio. Talvez essa seja uma solução para estimular os moradores a voltarem a plantar.

    Eunice Puga Inácio
    Arquiteta Paisagista
    eunicepuga@terra.com.br

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  3. Olá Eunice,

    No artigo parques urbanos não tratei da matéria de arborização urbana diretamente. O foco foi o espaço verde "parque urbano".
    As questões apresentadas estão relacionadas e reguladas por leis municipais. Hoje a Lei Municipal 10.365/87 regula a poda e remoção de árvores, da cidade de São Paulo, sendo assim para cuidar das árvores em área pública ou privada é necessário autorização do poder público. Na realidade é necessário um laudo técnico para submetê-lo a PMSP(subprefeito e Secretaria do Verde).
    Uma proposta como a apresentada deve ser encaminhada a esfera do legislativo para ser transformada em lei e regular a ação proposta.
    Devemos ter em mente que,a legislação vigente desde 1987 não surgiu à toa. Houve a necessidade de mediar e regular a ação da sociedade em relação as árvores.
    Temos na cidade de São Paulo pessoas que amam e pessoas que odeiam árvores. Cabe a sociedade a partir de suas esferas, regular o convívio dos que amam e dos que odeiam árvores.
    A lei 14186/2006 trata do programa de arborização da cidade de São Paulo. Cada dia avançamos um pouco mais para termos uma gestão melhor das árvores urbanas. O SISGAU - Sistema de Gerenciamento de Árvores Urbanas está pronto, agora falta alimentar o banco de dados. Estamos em processo de especificação técnica para contratar os serviços de inventário das árvores urbanas e alimentar o SIGAU, que será a nossa ferrameta de gestão. Temos em andamento a campanha de incentivo à arborização, onde as pessoas podem ter uma árvore que não causará problemas futuros nem pra ela nem pra municipalidade (para saber mais sobre a campanha acesse o site de SVMA), O Instituto Biológico está desenvolvendo o protocolo para controle de cupins.
    Parece lento, mas a complexidade da cidade de São Paulo exige responsabilidades do poder público na ação de cuidado com as árvores.
    Nosso blog é feito para a troca de informações e conhecimento, por isso agradecemos a visita e participação.

    Atenciosamente,
    Cyra Malta Olegário da Costa
    EQUIPE UMAPAZ.

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  4. Oi, conheça a Horta Pronta Online, a Hortinha que já vem pronta!

    http://sites.google.com/site/hortaprontaonline/

    Grato, Eliel.

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